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Jogo cênico de duplicidade não empolga o público

 

Por George Carvalho

 

teatrologo.jpg Grande vencedora da décima terceira edição do Janeiro de Grandes Espetáculos, indicada para vários prêmios, a montagem do texto de Jean Genet, As Criadas, pela Cênicas Companhia de Repertório, pode até merecer as indicações e os prêmios que recebeu, mas é enfadonha e pouco empolgante. A falta de envolvimento que a montagem proporciona é tanta, que o público presente no calorento e apertado Teatro Arraial em 24 de janeiro só se deu conta que a peça tinha chegado ao fim quando o terceiro ator entrou no palco, juntando-se aos outros dois, aplaudindo o término do espetáculo.

 

A trama se desenvolve no quarto da patroa e conta a história de duas irmãs pobres que trabalham para essa senhora rica e amada. O abismo entre as condições das criadas e da patroa leva as irmãs a denunciarem o amante desta, como parte de um plano maligno para liquidar a senhora. Sempre que a patroa sai de casa, as irmãs arquitetam sua morte, ensaiando-a de várias formas. Mas, na presença da madame, nunca conseguem concretizar o assassinato, curvando-se às qualidades da bela senhora que as acolheu em sua casa.

 

Cenário e figurino, assinados por Marcondes Lima (também diretor do espetáculo), atuam em perfeita sintonia com a proposta da montagem, assim como a afinação entre a trilha sonora de Marcelo Sena e a iluminação de Sávio Uchoa. A passarela utilizada na montagem dá o devido tom de glamour à entrada da patroa, assim como as suas vestes, contribuindo para escancarar a inveja alimentada pelas criadas. A interação dos atores em cena é perfeita, mas a partir de um determinado momento, a ação começa a se arrastar, fazendo com que o espectador comece a olhar o relógio e a se recostar na cadeira (se é que era possível fazê-lo no Arraial).

 

O jogo cênico de dubiedades e duplicidades e o estreitamento do limite entre realidade e ficção funcionam bem no início. Tal efeito se dá, em grande parte, devido ao desempenho harmonioso dos atores Antônio Rodrigues e Jorge de Paula, os quais interpretam os personagens que dão o título da peça. A trilha sonora também até que consegue empolgar no início. Contudo, esse jogo não se mantém no mesmo patamar durante os noventa minutos de duração do espetáculo.

 

As Criadas levou os prêmios de espetáculo adulto, ator (Jorge de Paula), trilha sonora, iluminação e cenografia no 13º Janeiro de Grandes Espetáculos, promovido pela Associação de Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (APACEPE). A montagem ainda foi indicada para as categorias figurino, maquiagem e diretor, além de ator coadjuvante pela atuação de Eduardo Japiassú. Um belo espetáculo, pela estética e encenação apuradas, apesar de pouco envolvente!

 

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