Seria cômico…
Por George Carvalho
Baseado na obra do escritor inglês Charlie Fish, Sebastião Soares conta a história de um homem que casou consigo mesmo. Sem maiores surpresas – ao contrário do que possa sugerir o título –, a peça é cheia de marcações mecânicas, explorando com superficialidade o narcisismo contemporâneo. O mote cômico não é suficiente para sustentar o espetáculo, que chega ao fim sem empolgar muito a platéia.
O monólogo busca uma interação entre elementos teatrais, dançantes, mímicos e artes visuais. Utiliza poucos recursos de figurino e cenário. A iluminação não decepciona, assim como a escolha inteligente da trilha sonora. A performance de Sebastião Soares – que também dirige a peça – é razoável. Falta-lhe maior desenvoltura para retratar o inusitado “casamento uno”. O texto, extremamente simples, também não permite lá grandes coisas.
A cena em que o personagem canta e dança com uma bexiga (bola de sopro) é a mais hilária. Já a parte da lua-de-mel, no entanto, é patética. A luz vermelha, o strip-tease por trás de uma película, a coreografia… A idéia não é de todo má, mas o conjunto da cena é sofrível. E há ainda a repetição de algumas marcações ao final da montagem, as quais são completamente desnecessárias. Dá a impressão de que foi feito apenas para aumentar o tempo da peça, que ainda assim é bastante curto.
A utilização da fala de uma jornalista que realiza uma matéria sobre o fato inusitado de um homem estar casando consigo mesmo é um recurso louvável. A relação entre narcisismo x imprensa marrom é um bom mote que poderia ter sido mais explorado na montagem. O ator ainda chega a citar algo sobre capas de revista, porém não há nada mais concreto.
O Homem que casou consigo mesmo chega ao fim sem permitir ao espectador maiores reflexões acerca do narcisismo contemporâneo, o que parecia ser a proposta da montagem. Dessa forma, acaba decepcionando. E não só por isso, mas também pela “falta de sal” ao humor apresentado. O que resta são situações esparsas que poderiam ser melhores aproveitadas. Numa próxima montagem, talvez…
julho 21, 2007 at 3:18 am
Pegou pesado nesse hein!!! Ainda bem que não fui ver essa peça…
julho 27, 2007 at 11:08 pm
Acho que talvez a encenação não tenha sido entendida. A crítica como sempre se confunde com opinião. Tem que se saber qual obra de arte está sendo avaliada. O texto, ou a encenação? Isso não parece claro no que está escrito. Imagino que deva ser a encenação já que este site se especializa em espetaculos teatrais e não em literatura drámatica, até porque não se trata de um texto dramático, mas provavelmente, de um conto ou uma crônica. Não tenho especializações em crítica teatral, mas posso dar minha opinião, a encenação é bastante divertida, dinâmica, e digo que o tempo em uma peça, não influencia na qualidade deste já que existem pessimas encenações de 4 horas de hamlet, assim como existem sketches maravilhosos de 20 min. Como não tenho compromiço com teatro ou literatura, falo também do texto. Um humor inteligente, original, e muito menos superficial do que aparentemente parece ser, o texto Charlie Fish. Entendo a importancia de uma critica de qualidade, mas entendo que opinião deva ser diferenciada de crítica.
julho 30, 2007 at 12:19 pm
Caro Diogo,
Realmente é a encenação que é avaliada. Esse espaço se destina a isso.
A idéia pode ser bastante original e pode funcionar muito bem no texto não dramático, o que não significa dizer que sua adaptação para os palcos seja bem sucedida.
Gostaria de lembrá-lo ainda que crítica é opinião. O diferencial é que as opiniões acerca dos espetáculo, nas críticas, não se resumem apenas a um “gostei” ou “não gostei”. Essas opiniões devem ser embasadas e tal embasamento deve ser consistente. O meu compromisso aqui é justamente exprimir minhas opiniões com o máximo de embasamento possível.
Atenciosamente,
George Carvalho.
julho 30, 2007 at 9:44 pm
primeiramente, agradeço bastante por meus pensamentos terem sido publicados aqui sem nenhum tipo de censura. Questiono a diferença entre o ato de criticar esteticamente e opinar algo justamente pelo fato de dar uma opinião ser algo tão subjetivo e pessoal, pois como afirmei antes, um pinto sem uma pata ciscando pode ser algo engraçado para uns enquanto que tragicos para outros. Não digo que seja o caso aqui mas é que avaliar uma obra apenas por um “gostei” e “não gostei” pode destruir algo que é preparado não por brincadeira, mas que foi pensando, que foi cansativo, às vezes sem nenhuma forma de financiamento, sendo sustentado unicamente pelo dinheiro da bilheteria (o que para tetro é quase impossivel). Agradeço mais uma vez pelo espaço e parabenizo ele por gerar discursões necessarias para o crescimento teatral local.