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Seria cômico… 

Por George Carvalho

teatrologo.jpg          Baseado na obra do escritor inglês Charlie Fish, Sebastião Soares conta a história de um homem que casou consigo mesmo. Sem maiores surpresas – ao contrário do que possa sugerir o título –, a peça é cheia de marcações mecânicas, explorando com superficialidade o narcisismo contemporâneo. O mote cômico não é suficiente para sustentar o espetáculo, que chega ao fim sem empolgar muito a platéia.

           O monólogo busca uma interação entre elementos teatrais, dançantes, mímicos e artes visuais. Utiliza poucos recursos de figurino e cenário. A iluminação não decepciona, assim como a escolha inteligente da trilha sonora. A performance de Sebastião Soares – que também dirige a peça – é razoável. Falta-lhe maior desenvoltura para retratar o inusitado “casamento uno”. O texto, extremamente simples, também não permite lá grandes coisas.

consigo-mesmo.jpg           A cena em que o personagem canta e dança com uma bexiga (bola de sopro) é a mais hilária. Já a parte da lua-de-mel, no entanto, é patética. A luz vermelha, o strip-tease por trás de uma película, a coreografia… A idéia não é de todo má, mas o conjunto da cena é sofrível. E há ainda a repetição de algumas marcações ao final da montagem, as quais são completamente desnecessárias. Dá a impressão de que foi feito apenas para aumentar o tempo da peça, que ainda assim é bastante curto.

            A utilização da fala de uma jornalista que realiza uma matéria sobre o fato inusitado de um homem estar casando consigo mesmo é um recurso louvável. A relação entre narcisismo x imprensa marrom é um bom mote que poderia ter sido mais explorado na montagem. O ator ainda chega a citar algo sobre capas de revista, porém não há nada mais concreto.

           O Homem que casou consigo mesmo chega ao fim sem permitir ao espectador maiores reflexões acerca do narcisismo contemporâneo, o que parecia ser a proposta da montagem. Dessa forma, acaba decepcionando. E não só por isso, mas também pela “falta de sal” ao humor apresentado. O que resta são situações esparsas que poderiam ser melhores aproveitadas. Numa próxima montagem, talvez…